Parkour, Cinema e Grindcore!
Facing what consumes you is the only way to be free.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O caminho é mesmo longo

Agora, passadas algumas semanas, o assunto já esfriou e, aparentemente, a discussão estabilizou-se. Depois de ler e compartilhar essa experiência com outros praticantes, vou postar aqui meu texto de partida nos fóruns brasileiros, estimulado pela reflexão em cima do texto "The road is long" do Elliot 88days. Vou postar também os pontos de vista de outros praticantes nesses fóruns, que acho que captaram meus motivos e podem nortear sua reflexão.

"Olá amigos,

Gostaria de compartilhar algumas idéias com os membros dessa comunidade.

Não me compete julgar as razões, verdadeiras ou não, de cada um, em começar a prática de Parkour. No entanto, como um traceur que realmente importa-se com a prática e o desenvolvimento dos praticantes, quero trazer minhas razões ao fórum.

Quando estive em Brasília, dezembro de 2007, para o Encontro Brasileiro, pude perceber a diferença do Parkour praticado em diferentes regiões do País. Já havia notado isso antes indo à São Paulo, mas não havia refletido o suficiente sobre. Tenho certeza que apesar de praticarmos os mesmos fundamentos, o ambiente onde treinamos exerce uma grande influência no tipo de desenvolvimento das nossas habilidades.

Após ler e escutar comentários de outros praticantes, e acompanhar documentos em vídeos, percebo que isso não acontece apenas no Brasil. Dizem que os franceses são ruins em planche, por exemplo, diferentemente de Brasília, onde todos empenham-se em exercícios na barra. Novamente, ressalto o tipo de ambiente em que treinamos. As áreas onde eles treinam com mais frequência são pequenos parques nos condomínios, e a maioria desses parques possuem barras. Já em São Paulo acredito que exista uma predominância de big jumps. Acho que tanto pelo tipo de obstáculos, grandes muros e muitos morros; quanto pela quantidade de novos praticantes, é a maior comunidade do Orkut, por exemplo. Acho que como são tantos praticantes novos que ainda não conhecem o espírito do Parkour, acabam achando que o Parkour trata-se apenas de grandes saltos e vaults e mais vaults.

Então, como esclarecer para esses praticantes que treinando dessa maneira, além de serem massacrados pelas críticas dos menos pacientes, podem também acabar machucando-se ou limitando o próprio desenvolvimento dentro do Parkour? Simples, através de uma boa abordagem.

Certo, mas não é tão simples. Todos os dias as comunidades são bombardeadas com vídeos, péssimos em sua maioria, diga-se de passagem, carregados pelos praticantes menos experientes, que muitas vezes são também novos em idade, e postam esses arquivos esperando alguma aprovação e/ou enturmarem-se.

As vezes prefiro abster-me à comentar, e as vezes essa atitude pode parecer arrogante, mas acredite, não é. É apenas uma maneira de manter as relações de "boa vizinhança".

O motivo real desse post é: criar um clima inspirado que possa ajudar efetivamente no desenvolvimento dos jovens praticantes. É sabido que existem várias fontes na internet, principal divulgador. São textos, relatos, depoimentos, discussões e opiniões para serem lidas. Mas como acontece no mundo contemporâneo, as pessoas interessam-se em recursos que parecem acelerar o processo, ou seja, os novos interessados procuram mais por vídeos e acabam não se interessando pela leitura.
Vídeos também podem transmitir esses valores. Não sou contra vídeos, definitivamente, muito pelo contrário.

Resgatando o começo do post, não quero julgar as razões e objetivos de ninguém. Claro que é possível que um praticante destaque-se por suas habilidades e postura mesmo sem ter lido nenhum desses textos. Mas como disse anteriormente, os textos ajudam a elucidar as idéias dos recém-chegados.

Por isso, empenho-me à transmitir esse espiríto, uma tarefa que não tento realizar sozinho, sei que outros bons traceurs também estão engajados no mesmo ideal. Quero que as comunidades locais, e mais globalizadas num segundo momento, identifiquem-se mais com a causa: tornarem-se praticantes mais conscientes, ativos e unidos. Quero ver membros e praticantes mais determinados.

Não devo dizer à ninguém o que fazer, mas se você entitula-se um traceur o mínimo que esperamos de você é mais empenho. "Esperamos" por que acredito escrever em nome de outros praticantes que compartilham a mesma idéia, ou identificam-se com as minhas idéias de alguma forma.

O estímulo que tive para escrever isso tudo veio a partir de uma analíse de um texto, bem discutido no exterior, principalmente. O autor desse texto é o Elliot Eightyeightdays, da Finlândia, um nome que pode passar despercebido pelas pessoas menos informadas, mas que também apresenta e representa suas opiniões na gringa. Traduzi o texto dele e postei em meu blog. Tenho outros textos traduzidos, prontos para serem postados, além dos meus próprios e outras impressões sobre aspectos envolvidos nos treinos.

Sei que o já escrevi bastante por aqui, sei também que tenho escrito bastante em meu blog. Mas para aqueles que interessam-se em meus pontos de vista, eu agradeço.

Espero que minha mensagem leve-o a refletir sobre sua medida de esforço no caminho do seu desenvolvimento, tanto pessoal, quanto relacionado ao Parkour."

Pedro Santigas:
"Não sou muito de ficar falando em topicos de orkut, mas pra esse do racha eu tive que abrir uma exceção. Acho que a cena aqui no Brasil com certeza só cresce a cada dia, vivo comentando isso com amigos e companheiros de treino. Quem costuma ir aos encontros consegue reparar bem essa evolução, a cada encontro que passa é bem legal ver que tem muita gente se empenhando e levando a serio. Vejo também que esse intercambio, tanto de tracers mais experientes vindo de fora, quando dos daqui que vão pra fora aprender, tem ajudado bastante nessa evolução.

A prática aqui no Brasil não tem tanto tempo que começou, como em alguns países da Europa por exemplo(a própria França que foi onde surgiu, Reino unido, Polonia etc..), porém de todas as vezes que eu me encontrei com esses praticantes europeus mais experientes aqui no Brasil(Thomas, Daniel, Johann, Chase), eles elogiaram muito o nivel do Parkour brasileiro, em relação ao tempo que praticamos, e querendo ou não, só o contato ao vivo com eles ja faz com que aprendamos muito, principalmente com os franceses(Thomas, Johann), que trazem todo aquele espirito real do Parkour, aquela necessidade de ter ser forte, de estar disposto a ajudar, mas também de se preservar, fazer treinos de resistencia com regularidade, pois em qualquer motivo que leve você a treinar, seja Parkour, Freerunning etc, em todos eles você vai precisar ser forte se quiser ter uma boa evolução, até mesmo pra fazer acrobacias você precisa ser forte, ter um abdomen forte, um corpo forte no geral por exemplo. Muitas pessoas aqui no Brasil não tem essa mentalidade ainda, porém é muito bom ver que varias pessoas estão começando a ter, e ver também que os que ja tem essa mentalidade estão muito bem dispostos a passar ela adiante, como pode-se ver por esse topico mesmo.

Enfim, acho que quem conhece um treino real de Parkour, sabe que é um treino chato, é incômodo, vc sofre, ganha bolhas, calos, rasga a mão, o corpo dói, acho que não tem porque escondermos isso, pelo contrario, eu costumo a desencorajar qualquer iniciante que não esteja preparado pra isso. Para quem não sabe, o Parkour veio de treinos militares, então é um treino duro querendo ou não.
Quanto ao ambiente onde você treina te proporcionar um "estilo" diferenciado de treino, acho que isso realmente pode acontecer, e aqui em Brasília realmente você encontra barras por toda parte como você disse Racha, mas acho que o motivo de nos empenharmos tanto em treinos de planche, vem justamente desse espirito francês, ser forte, tanto que começamos a investir nesse treino só depois da vinda do Thomas, ai com o tempo, esse treino acabou virando quase uma obrigação para os que começam a treinar com agente, talvez porque gostamos de treinar isso, nos faz bem, o fato é que o negócio pegou. Mas aqui também é cheio de lugares altos pra pular, não como em Sãp Paulo, mas tem sim, não sei se chegou a conhecer, muitos praticantes inesperientes e sem informação costumam "treinar" nesses lugares.

Quantos esses que procuram o Parkour apenas como uma atividade para liberar adrenalina, acho que isso sempre vai existir, la fora não é diferente, existem os que levam a serio e os que não, existem os prudentes, e os imprudentes.

Muito bom o tópico Racha, ta de parabéns.

abraço"

Arthur R2:
"Bom, eu estou bastante otimista sobre a cena aqui no brasil, por cada cidade em que eu visitei percebi que exisite sim gente dedicada e disposta a praticar o parkour seriamente.
Conheço várias pessoas de várias capitais brasileiras que comprovam que o parkour esta tomando um rumo muito bom. O problema é os que levam a sério são minoria perto da grande massa de modinhas que se dizem praticantes de parkour mas na verdade só estao de zuação.
Pra mim parkour/freerunning ou seja la o que for é muito mais que uma atividade fisica, temos que aprender e ensinar qualquer coisa além de agilidade e força,. qualquer coisa que deixe as pessoas mais educadas, menos competitivas e individualistas.

é isso ae racha eu ja tava sentindo falta de manifestações como a sua por aqui, internet também é um bom lugar pra se aprender e ensinar de tudo, inclusive parkour/freerunningetcetcetc."

Wesley Leão:
"Acho que a diferença de interesse em procurar informações entre os praticantes mais antigos e os novatos se deve ao fato da facilidade. As pessoas com mais tempo de Parkour, quando começaram, eram sim iniciantes, como muita gente fala que eles esqueceram que já foram. Mas há uma diferença, eles não tinham um blog com boas informações e ainda em português, eles não tinham um Racha da vida para pegar os textos estrangeiros e traduzir deixando a disposição de todos. E quando eu digo estrangeiro, não digo americano, pois muitos dos textos eram em francês que foram traduzidos para o inglês para que pudessem ser passados para o português. Perdiam assim algumas informações, mas nem por isso eles paravam de pesquisar e davam valor ao que tinham.
Acho que isso serviu como um método de seleção natural, "os mais fortes sobrevivem", pois pensem se fosse dessa maneira hoje, quantas pessoas deixariam o Parkour por comodidade e preguiça? O exemplo mais claro disso é o tópico de iniciantes com boas informações, links de alguns sites bons, mas é difícil ver um iniciante que leia aquele tópico, pq quando ele o abre e ve aquele tanto de letra junto e nenhum vídeo eles clicam no botão "voltar" na barra do navegador.
Esse seria um dos motivos de pessoas que estão começando pensarem que Parkour é apenas saltar de grandes alturas e "pular" obstáculos, pois esse é o conteúdo da maioria dos vídeos. E acontece que depois de assistirem a uma porção de vídeos essas pessoas dizem saber muitas coisas a respeito e acham ruim se alguém discorda.
Levando em consideração que todos, ou pelo menos a maioria, concordam que iniciantes se interessem muito mais por vídeos que por textos, aquela ideia que foi sugerida um tempo atrás aqui na comunidade de se fazer um vídeo ao estilo de um postado pelo Arthur onde seriam abordadas várias "áreas" do parkour, na minha opinião é uma ótima ideia."

Diogo Granato:
"não acredito na existencia de modinhas...eu penso que pessoas se aproximam do parkour por diferentes razões, para se tornar mais completo, como profissão, como hobbie, como atividade física, ou apenas se aproximam sem treinar, pois acham algp interessante de ficar próximo...
não julgo esses motivos.
acho que os praticantes sérios deveriam tirar a palavra "modinha" do vocabulário, e reconhecer que não é pior se aproximar do parkour por motivos diverentes dos seus.

concordo que em diferentes lugares o parkour evolui de forma diferente, e acho que isso acontesse no corpo daqueles que treinam parkour o suficiente para ganhar um estilo próprio junto a seu grupo e/ou ambiente, e acho isso incrível!
mas nem todos evoluem da mesma forma, nem todos chegam a esse ponto, nem todos tem esse objetivo.
também não vejo problema em imitar o estilo das pessoas que treinam a mais tempo, pois isso leva inevitavelmente ao seu estilo...

em outras palavras, acho que ninguém deve julgar ninguém, pois não tem esse direito e ponto!
podemos ficar indignados com a falta de ética humana na prática do parkour, e só isso...
pois não creio que ninguém aqui seja gabaritado o suficiente para falar de falta de ética em relação ao parkour. afinal é algo que ainda está em desenvolvimento.

acho o tópico ótimo e as reflexões ótimas.
e acho que parkour deve ser levado cada vez mais com seriedade e com descontração ao mesmo tempo...
e talvez no momento o mais importante seja a descontração... a descontração nos treinos...ver as pessoas pelo que elas realmente são, perceber o porque das pessoas agirem do modo que agem, etc... se divertir e não ter preconceitos em relação aos outros...

no mais é sempre um prazer treinar com as pessoas de outras cidades, como os meus queridos mineirinhos, o pessoal do rio (e da ilha), jundiaí, brasilia, do sul (os backstreet boys), norte e nordeste, e por aí vai... não só porque aprendo novos estilos e caminhos, como pela ótima companhia. Espero que continue encontrando pessoas do brasil inteiro, e trocar figurinhas ao vivo.
boa bruno, fazia tempo que não rolava um tópico bom de filosofar! heheheh

abraço a todos e beijomeliga"

Por enquanto é isso. Se você teve paciência suficiente para chegar até aqui, eu o agradeço e congratulo.

Rachacuca.

7 Impressões:

Thiago Lima disse...

Olá! Qual seu nome?

Sim, é um prazer dizer que tenho grandes amigos em Brasília. Tivemos horas de conversas reflexivamente produtivas.
Sim, claro. Seria um grande prazer conhece-lo, e não precisa agradecer pelo comentário, todo o bom trabalho deve ser reconhecido.

Quanto a sua ultima postagem, passe um tempo com um bebê.

Anônimo disse...

Muito bom Racha.
Assim eu posso comparar minhas ideias com a de outros praticantes.
Valeu.

Abraço.

Arteba disse...

Velho , eu não tinha lido essa resposta do Diogo ahahaha achei muito foda cara...é exatamente o que eu penso hj em dia, depois de tanto filosofar e discutir sobre esse assunto ..

Anônimo disse...

Só faltou a piada...

hehhe

Pedro Santigas disse...

Eu também não tinha visto esse do Diogo ai, muito bom!

abraço!

Rafaela Cappai disse...

Eu não tinha visto essa discussão no Fórum... se tivesse visto, adoraria ter participado! Mas enquanto lia as definições vi que faltava algo... algo que na verdade sempre me incomodou e já conversamos muito sobre isso...

Preconceito e sensação de superioridade de nós mesmos!

Daí veio a resposta do Diogo...

E acho que é isso mesmo... acho que é uma pretensão enorme querer que as pessoas tenham a relação que cada um de nós tem com o Parkour... É claro que em alguns momentos nos sentimos indignados com certas atitudes de algumas pessoas, mas isso sempre existiu e sempre vai existir... Antes de qualquer coisa temos que sempre nos perguntar: será que não é preconceito? Será que não estou achando que meu Parkour é melhor que o dele?

Na base de tudo está uma vontade de fazer o bem... porque queremos que o Parkour faça com os outros o que fez conosco... transformar pessoas em seres humanos melhores. Mas nós não temos esse controle e nem devemos querer ter... Cada um se aproxima da prática por motivos diferentes... e todos esses motivos são válidos...

É como a obra de arte em si... a gente não pode querer que um livro ou uma peça de teatro realizem exatamente o que um autor ou diretor pensou... depois que ela nasce já virou algo "aberto" que se realizará completamente quando tocar cada um das pessoas...

Com o Parkour é a mesma coisa... ele já nasceu, já está disponível, e já não pertence mais ao Belle, ou a ninguém... é uma prática livre que vai ter em cada praticante uma influência e capacidade de transforamação diferentes...

Acho que o maior valor está nisso mesmo... O Parkour pode ser milhões de coisas... e não nos cabe julgar o que ele é pra cada um...

Quer dizer então que não devemos continuar transmitindo e discutindo sobre a prática com novatos? Devemos parar de tentar contar aos outros como esse tal de Parkour nos fez bem? Nem 8 nem 80! Acho que a forma de lidar com essa questão é que está errada... A gente fala em respeito ao próprio, respeito aos limites, respeito a num sei lá mais o que... mas daí você abre um post no Orkut e está todo mundo discutindo, querendo mostrar ao mundo que seu Parkour é melhor...

Acho que se nos pautarmos pela palavra respeito e empatia não há erros... Empatia pra nos colocar no lugar do outro... sabendo que os motivos de cada um de nós são válidos... Mas se em algum momento eu quizer falar dos meu motivos... que eu fale, sem achar que os meus motivos são melhores...

Respeito e empatia sempre!

Anônimo disse...

Não sei se esse é um bom lugar para falar isso, mas vou aproveitar a brecha... hehe...


Olhando por outro lado a questão do "Parkour de alguém ser melhor que de outro", eu não vejo isso como uma coisa ruim não. Isso que vou falar aqui de certa forma é um tipo de competição, mas uma competição digamos que boa. Tem muitos praticantes que tem o "Parkour melhor que o meu", ou seja, eles são melhores que eu. Me comparo com essas pessoas e muitas vezes chego até a criar um duelo entre eu e eles, mesmo que isso seja dentro de mim. Geralmente escolho pessoas muito melhor que eu para tal comparação. Pois, além de me servir como incentivo para treinar e tentar um dia ser melhor que ele; também serve de parâmetro para comparação, porque só podemos dizer algo em relação a alguma coisa, qualquer que seja, depois que fizermos uma comparação. Só assim podemos dizer se está saindo como o esperado, se está melhorando, se está certo ou errado... Não faço uso dessa idéia apenas no Parkour não e sim em minha vida.


Não estou conseguindo me expressar da maneira como eu queria, mas seria mais ou menos essa aí a minha idéia.