Vez ou outra eu leio alguns textos interessantes enquanto visito outros blogs e sites. E, vez ou outra, tenho vontade de compartilhar essas leituras com os poucos (mas ilustres, rs.) visitantes do meu blog. Agora vou postar um texto de Elliot 88days, da Finlândia, que encontrei no Parkour.net.

O texto é longo, mas tem vários pontos interessantes, apesar de não concordar com tudo, aprecio algumas de suas opiniões.
Gostaria também de dedicar essa tradução ao Arthur, pelo que temos conversado ultimamente, ressaltando o que o Elliot diz sobre aproveitar todos os momentos vividos, mesmo aqueles que não estão inteiramente ligados ao treinamento de Parkour.
Boa leitura,
Rachacuca.
"Antes de escrever isto ou subir meu vídeo, eu debati comigo mesmo sobre postar ou não postar minhas idéias e experiências. No final, eu decidi que não faria mal simplesmente compartilhar minha opinião com todos.
Essa peça escrita é puramente para iluminar meus próprios pensamentos em certos assuntos e não pretendo que isso se transforme numa discussão sobre o que é e o que não é Parkour.
Aqui eu poderei usar o termo "Parkour" para descrever o que eu treino, mas não é um ataque à sua definição, ou qualquer um que permaneça fiel à isso.
Um dos objetivos que eu espero alcançar através dos treinos é a habilidade de mover, reagir e agir, não apenas como eu quiser, mas também de qualquer maneira necessária que melhor corresponda à uma situação recebida. Um exemplo disso seria ter força e flexibilidade para poder escalar alguma coisa, ser capaz de dançar espontaneamente sem medo de sentir-me envergonhado quando escuto alguma música que me transmite algo, e viver minha vida dia a dia, de um jeito que traga paz à mim a às pessoas em minha volta. Isto é o que eu compreendo que o conceito "flow" (fluxo) seja, tanto no contexto da Filosofia ou do Parkour.
Para mim, é muito limitado pensar que o Parkour é apenas o percurso mais eficiente fisicamente de A-B, ultrapassando obstáclos físicos X e Y. Isto é parcialmente por que a grande maioria dos obstáculos que eu encarei, e vou encarar em minha vida, serão aqueles que não escolhi. Talvez, eu fui perseguido somente uma vez, que eu me lembre, e acredito que vivendo uma vida pacífica de não violência e aceitação dos outros, eu crio um mundo onde eu não precise escapar.
Como uma raça nós não vivemos mais em um mundo de "matar ou morrer", em que outros humanos ou animais são uma ameaça imediata (apesar de que algumas pessoas façam você acreditar nisso). Não é mais "só os fortes sobrevivem", e esta é uma razão para as motivações dos meus treinos não serem com o único objetivo de fugir.
'Ser forte para ser útil', mas como podemos realmente usar nosso tempo na Terra efetivamente e ser útil para alguém se estamos usando muito do nosso tempo e energia para treinar em um cenário imaginário que pode não acontecer?
Acredito que situações reais de perseguição não podem ser previstas, mas sinto-me confiante que se for necessário, poderia correr, saltar e escalar para escapar em tal situação.
Se todos os praticantes do mundo parassem de treinar juntos, mas empregassem o mesmo tanto de tempo e energia para fazer trabalhos voluntários, por exemplo, acho que isso teria um efeito muito maior na população e em sua consciência como um todo, mais que o Parkour físico faz. Por que em alguns aspectos o treino pode ser bem egoísta, e realmente sinto como se não me importasse com o que os outros pensam ou desejam, eu apenas quero sair e treinar "isso e aquilo". E acho que isso é especialmente verdade se você treina sozinho.
Não estou sugerindo que todos ajudem a mudar aquecedores de cama nos fins de semana, depois da escola ou do trabalho, mas acho que podemos cair numa ilusão sobre o motivo pelo qual realmente treinamos.
Tornar-se apto para perceber claramente o mundo que nos cerca é a chave para treinar segura e efetivamente, mas como podemos fazer isso quando aproximamos de obstáculos similiares aqueles que encaramos da última vez? Nossas experiências do passado podem nublar nosso julgamento, ou até nossa simples observação do momento presente. Eu acho ingênuo assumir que as circunstâncias dos nossos treinos são repetidas, pois existem muitos fatores em conta. Se nós sempre baseamos o que vemos como possível pelo que já fizemos antes, então como poderemos progredir? Acredito que tudo isso seja incerto, mas nós nos enganaríamos se pensássemos que sabemos o que acontecerá toda vez que nos movemos. Eu escutei inúmeras pessoas de pé na beirada de um muro tentando se preparar para um salto dizendo: 'Eu sei que consigo'. Se você sabe e tem certeza que pode realizar qualquer salto ou movimento, então você nunca vai precisar de preparação. Nem mesmo um segundo para ajustar sua pisada ou posição. Eu também acredito, oposto a verdade, que nós não sabemos que alguma coisa é impossível, e a única maneira de descobrir é tentando. O que estou sugerindo é que nós mudamos a nossa maneira de pensar.
Pessoalmente eu acho que o medo é desnecessário na vida, e que o medo nos segura em tudo. Encarar, e sobrepujar, esse medos é uma das razões pela qual eu treino. Não precisamos do medo para nos dizer os perigos envolvidos no treino ou no dia a dia. Já conhecemos tais perigos, tanto consciente quanto inconscientemente. Quando atravesso uma rua movimentada, estou completamente consciente dos perigos e que eu poderia ser atropelado por vários carros se repentinamente andar sem olhar para os lados. Mas não tenho medo. O medo nos inibe e/ou a nossa habilidade de reagir efetivamente. Quando temos medo perdemos nossa concentração, hesitamos e perdemos a boa forma que gastamos anos tentando aperfeiçoar através dos treinos. Pode ser argumentado que tudo que fazemos tem algum perigo, de um jeito ou de outro, mas se o objetivo do medo é nos informar desses perigos então veríamos o mundo inteiro como uma ameaça à nossa segurança, e viveríamos num estado contínuo de medo da infinita lista de possíveis coisas que podem dar errado em qualquer situação. O fato é, enquanto praticamos realizamos vários movimentos perigosos sem medo, simplesmente por que alcançamos um jeito de conquistá-lo. Quantas vezes já ouvimos pessoas na rua dizendo que o que fazemos é perigoso e devemos ter cuidado? Como se já não soubessemos desses perigos e estivessemos movendo pelo ambiente sem preocupação com nossa própria segurança. É semelhante a parar todos os ônibus que passam, apenas para dizer ao motorista que dirija com cuidado, por que se ele bater ele pode se machucar.
Eu tenho medo de altura desde que posso me lembrar, e toda vez que eu fico com medo é como se tudo que eu aprendi não valesse para nada. Eu duvido da minha pegada, minhas pernas ficam fracas, e sinto-me fisicamente incapaz de fazer coisas que poderia fazer facilmente em alturas mais baixas com o mínimo de esforço. Viver sem medo não quer dizer que você vai viver imprudentemente. Se de repente eu perdesse todos os meus medos eu não saltaria do telhado da minha casa só por que não tenho mais medo, por que eu ainda guardo o conhecimento e compreensão das possíveis consequências de minhas ações. Viver sem o medo da morte não quer dizer que você não valorize mais a vida, mas que tem uma profunda compreensão e aceitação que apesar da escolha do seu estilo de vida e das precauções que você tome, você pode morrer a qualquer minuto pelas coisas que estão fora de seu controle.
Uma importante lição que aprendi é o que a confiança pode trazer sozinha. Existem inúmeros movimentos e caminhos que posso realizar fisicamente, mas não faço por falta de confiança ou medo. Quando estamos confiantes nos seguramos diferentemente e movemos com mais empenho. Nossos pensamentos e crenças se preenchem no caminho que movemos e também determinam o nível do que é e do que é não é possível.
Recentemente eu descobri uma técnica chamada "visualização", aprendida e usada por dançarinos e atores, para melhorar sua postura e eficiência de movimento. A premissa básica da técnica é que o pensamento afeta o comportamento dos nossos corpos, e que esse poder serve para desenvolver um repertório de imagens que você relaciona para mover seu corpo de formas diferentes. Por exemplo, imagine que seu corpo é uma bola durante um rolamento. A forte imagem que eu imagino agora e durante os meus treinos, é que meus braços e pés são setas/flechas, apontando para a direção que eu quero viajar e concentrando o fluxo de energia. Como quando os pés apontam num underbar ou salto de precisão. Até eu começar a ler sobre isso eu tinha pouca noção de que mantinha essa imagem na mente enquanto treinava, mas não sabia que existia uma técnica trabalhando, nem mesmo que existia uma técnica, e tenho certeza que outras pessoas estão usando a visualização sem perceber. Em algum ponto eu quero usar essas imagens mais conscientemente para ajudar meu desenvolvimento. Você pode perceber o efeito do pensamento com um simples teste: primeiro, vire sua cabeça para a esquerda, depois de novo ao centro. Então tente a mesma coisa, mas enquanto faz isso, pense em mover-se na direção oposta.
Somos capazes de ver se uma pessoa está chateada pela expressão de seu rosto ou sua postura. Gastei algum tempo observando e analisando a linguagem corporal da maneira como as pessoas treinam, de alguns amigos, mas na maioria estranhos. Acho que você pode dizer muito sobre uma pessoa e suas perspectivas das coisas, seu humor e atitude pelo jeito que elas treinam. Isso também traz um benefício para percebermos as coisas em nós mesmos, e para nossos corpos e mentes aproveitarem o máximo de nossos esforços.
Algumas coisas me levam a pensar na eficiência do 'flow'. Durante o verão eu treinei numa área relativamente pequena usando alguns movimentos básicos e traçando uma rota que incluia escalada, quando dois caras se aproximaram pra saber o que eu fazia. Eles disseram que seu patrão estaria interessado em ver isso também, e perguntaram se eu importaria de preparar uma pequena exibição em troca de alguma recompensa. Como sempre, eu respondi que eu não fazia apresentações, mas o que eu poderia fazer era continuar o que eu estava fazendo antes do patrão deles chegar. Eu não tinha uma boa razão para recusar, então quando o chefe e o resto da comitiva apareceram eu simplesmente continuei minha rotina e executei os movimentos como já fazia nas últimas duas horas ou mais. Por isso eu ganhei aplausos, incontáveis "obrigados" e um aperto de mão dourado de £10. Você pode dizer que eu me vendi, que usei minhas habilidades para ganhar dinheiro, mas acredito que essa situação foi possivelmente o primeiro teste do que aprendi até aquele ponto. Meu treinamento foi posto em prática sobre pressão em frente de várias pessoas. Este é um exemplo de por que eu acredito que o Parkour extende-se além de sua definição. Nessa situação eu fiz o que trouxe mais harmonia e satisfação para mim e para aqueles em minha volta. Teria sido fácil dizer não, mas era um desafio dizer sim. Não apenas testei minhas habilidades numa situação que pode ser facilmente simulada, mas eu trouxe alegria para um grupo de estranhos. Qual recompensa é maior que essa? Para mim, isso é o que o "flow" e o Parkour siginificam num senso diário. Se o mundo pedir alguma coisa à você, então você deveria ser capaz de fazer o que seja, e aproveitar isso.
Ser capaz de adaptar-se a qualquer obstáculo, qualquer situação e superá-la, isto é o que muitas pessoas, muitos traceurs dizem que querem conquistar. Mas quantas pessoas estão tentando fazer isso além do sentido físico? Lembro-me de novo do quote: "ser forte para ser útil". Como podemos ser verdadeiramente fortes na mente, e úteis para os outros, se concentramos toda nossa energia nessa atividade física mas não conseguimos alcançar um equilíbrio nos relacionamentos e em outras áreas da vida? Qual a utilidade do Parkour, se por exemplo, depois de um dia de treino você chega em casa e discute com sua família, ou fica deprimido ou frustrado por que não consegue treinar direito?
Parkour pode ser usado para escapar, mas não acho que deva ser usado para fugir de tudo desse jeito. Se isso me ensinou alguma coisa, é que não preciso fugir. Para cada desafio, cada medo que encaro, eu aprendo alguma coisa que me permite seguir para onde eu não podia antes.
Nós tendemos a fazer o que nos é confortável e fácil, nós comemos as mesmas refeições, escutamos a mesma música e até tendemos a fazer amizades com pessoas que tem interesses similares aos nossos. O mesmo se aplica aos treinos, e terminamos nos lugares favoritos com os movimentos preferidos. O problema é que ficamos escravos de um tipo de rotina, e quando isso acontece o efeito bola de neve começa e fica cada vez mais difícil de sair disso. Eu acredito que para realmente progredir, e mais rapidamente, temos que nos encontrar num estado contínuo de mudança de hábitos, e desafiando as coisas que achamos desconfortáveis. Que seja o hábito de fazer sempre o mesmo vault ou reagir as críticas com raiva, por exemplo. Olhar para as coisas dessa maneira é mais fácil para ver o que precisamos treinar e como podemos aprender mais. Olhe para aquilo que você está evitando, e então vá e faça. Se você não quer treinar no molhado, então esse é um exemplo perfeito de quando você deveria estar treinando! Com esse método de usar seus medos e preferências como um guia do que você deve treinar, você nunca encontrará alguma coisa que não precisa ser trabalhada.
Na verdade, você provavelmente vai descobrir que não precisa procurar por desafios e obstáculos para lutar, eles o encontrarão. Para mim, tudo é um hábito, e não ser capaz de fazer alguma coisa é tão habitual quanto ser capaz de fazê-lo. O mesmo acontece quando você evita algum tipo de movimento, situação, pessoas ou qualquer coisa que se possa pensar. 'O hábito de quebrar hábitos'. Isto é tão simples quanto o que Parkour siginifica para mim. Ser capaz de fazer coisas que você já evitou ou teve medo, esta é a maior liberdade que você já precisou?
Eu acho um pouco deslocado colocar tanta ênfase no condicionamento físico sem preocupar-se com a maneira que sua mente foi condicionada antes mesmo de você poder andar.
Quando eu treino eu percebo claramente meus medos, ansiedades, preocupações e hábitos que me reprimem, mas também me fazem recuar para onde me sinto familiar e confortável. Essa é outra motivação para o meu treino, dissolver esses medos em todos os aspectos de minha vida. Todas essas coisas podem as vezes requerer muito esforço mental e físico da minha parte, por isso eu também escolho por mover-me por instinto simplesmente, espontaneamente, seja num percurso ou não, apenas por diversão, sendo a diversão a intenção e o objetivo. E eu respeito qualquer um que escolha o mesmo. Acho que para ser flexível e adaptável é vital aprender o equilíbrio entre o "treinamento sério" com diversão e apenas movimentar-se por se sentir bem, e não pensar menos de nós mesmos ou dos outros por fazerem isso. É tudo uma parte da jornada. Você pode se encontrar depois de três anos pensando: 'Eu devia ser mais forte, mais rápido e mais confiante', mas você deve se lembrar que apesar de como sua habilidade está agora, você divertiu-se pelo caminho. Senão, para que alcançar um nível como o de David Belle ou mais que isso, se você não aproveitou o que precisa para chegar lá? Eu não gostaria de gastar minha vida fazendo alguma coisa que eu só encontraria felicidade ao final, e não pelo caminho.
Para mim, não existe uma real distinção do que podemos chamar de 'Parkour' e do que chamamos de 'Vida'. Eles são um todo inseparável e acho que deveríamos enxergá-los dessa maneira. Se somos observadores do que está ao nosso redor e se agirmos com discernimento enquanto treinamos, então deveríamos ser imparciais em como vivemos a vida também. Sinto que todos temos alguma coisa para ensinar, e ao mesmo tempo podemos sempre aprender com pessoas menos experientes que nós, e não só aqueles que consideramos 'melhores' que nós. Sinto que o melhor jeito de ensinar alguém é não dizendo nada à pessoa, mas silenciosamente mostrando os valores que você vive e treina. Seu aviso não vai ser fiel se por exemplo, você diz à alguém (especialmente à uma criança) para sempre praticar movimentos básicos em que tudo é preciso, quando você mesmo não está praticando isso. Se você está guiando alguém menos experiente, esse é um bom momento para manter seu treino sempre em cheque, para que você faça como fala, para não ficar da boca para fora.
Para mim, o movimento é só a ponta do iceberg nessa jornada até a total consciência. Acho que o Parkour abriu os olhos de várias pessoas de várias maneiras, para alguma coisa maior que o exterior e manifestações físicas, que como um todo achamos difícil de pontuar ou colocar em palavras. Pessoas começaram a discutir coisas que extendem-se além de 'como posso executar o movimento X?', e para mim isso é parte do objetivo final do Parkour. Fazer-nos questionar a vida e examinar além do que vemos como tangível, permitindo que encontremos nossos próprios caminhos.
Sinto que encontrei meu caminho e não gasto mais toda minha energia numa estrada de perguntas sem fim, por que eu sei que se eu não agir contra um pensamento ou uma idéia, nenhuma soma de pensamentos irá mudar a situação.
Está é minha experiência.
Sinto que a jornada está apenas começando.
Gostaria de agradecer à todos com quem já treinei, aqueles que me ensinaram, inspiraram, me testaram e zombaram de mim, todos que encontrei pelo caminho, e os que ainda vou encontrar, e todos que individualmente querem percorrer o caminho. Este vídeo é para vocês.
http://youtube.com/watch?v=66aCaw_27Oo"

O texto é longo, mas tem vários pontos interessantes, apesar de não concordar com tudo, aprecio algumas de suas opiniões.
Gostaria também de dedicar essa tradução ao Arthur, pelo que temos conversado ultimamente, ressaltando o que o Elliot diz sobre aproveitar todos os momentos vividos, mesmo aqueles que não estão inteiramente ligados ao treinamento de Parkour.
Boa leitura,
Rachacuca.
"Antes de escrever isto ou subir meu vídeo, eu debati comigo mesmo sobre postar ou não postar minhas idéias e experiências. No final, eu decidi que não faria mal simplesmente compartilhar minha opinião com todos.
Essa peça escrita é puramente para iluminar meus próprios pensamentos em certos assuntos e não pretendo que isso se transforme numa discussão sobre o que é e o que não é Parkour.
Aqui eu poderei usar o termo "Parkour" para descrever o que eu treino, mas não é um ataque à sua definição, ou qualquer um que permaneça fiel à isso.
Um dos objetivos que eu espero alcançar através dos treinos é a habilidade de mover, reagir e agir, não apenas como eu quiser, mas também de qualquer maneira necessária que melhor corresponda à uma situação recebida. Um exemplo disso seria ter força e flexibilidade para poder escalar alguma coisa, ser capaz de dançar espontaneamente sem medo de sentir-me envergonhado quando escuto alguma música que me transmite algo, e viver minha vida dia a dia, de um jeito que traga paz à mim a às pessoas em minha volta. Isto é o que eu compreendo que o conceito "flow" (fluxo) seja, tanto no contexto da Filosofia ou do Parkour.
Para mim, é muito limitado pensar que o Parkour é apenas o percurso mais eficiente fisicamente de A-B, ultrapassando obstáclos físicos X e Y. Isto é parcialmente por que a grande maioria dos obstáculos que eu encarei, e vou encarar em minha vida, serão aqueles que não escolhi. Talvez, eu fui perseguido somente uma vez, que eu me lembre, e acredito que vivendo uma vida pacífica de não violência e aceitação dos outros, eu crio um mundo onde eu não precise escapar.
Como uma raça nós não vivemos mais em um mundo de "matar ou morrer", em que outros humanos ou animais são uma ameaça imediata (apesar de que algumas pessoas façam você acreditar nisso). Não é mais "só os fortes sobrevivem", e esta é uma razão para as motivações dos meus treinos não serem com o único objetivo de fugir.
'Ser forte para ser útil', mas como podemos realmente usar nosso tempo na Terra efetivamente e ser útil para alguém se estamos usando muito do nosso tempo e energia para treinar em um cenário imaginário que pode não acontecer?
Acredito que situações reais de perseguição não podem ser previstas, mas sinto-me confiante que se for necessário, poderia correr, saltar e escalar para escapar em tal situação.
Se todos os praticantes do mundo parassem de treinar juntos, mas empregassem o mesmo tanto de tempo e energia para fazer trabalhos voluntários, por exemplo, acho que isso teria um efeito muito maior na população e em sua consciência como um todo, mais que o Parkour físico faz. Por que em alguns aspectos o treino pode ser bem egoísta, e realmente sinto como se não me importasse com o que os outros pensam ou desejam, eu apenas quero sair e treinar "isso e aquilo". E acho que isso é especialmente verdade se você treina sozinho.
Não estou sugerindo que todos ajudem a mudar aquecedores de cama nos fins de semana, depois da escola ou do trabalho, mas acho que podemos cair numa ilusão sobre o motivo pelo qual realmente treinamos.
Tornar-se apto para perceber claramente o mundo que nos cerca é a chave para treinar segura e efetivamente, mas como podemos fazer isso quando aproximamos de obstáculos similiares aqueles que encaramos da última vez? Nossas experiências do passado podem nublar nosso julgamento, ou até nossa simples observação do momento presente. Eu acho ingênuo assumir que as circunstâncias dos nossos treinos são repetidas, pois existem muitos fatores em conta. Se nós sempre baseamos o que vemos como possível pelo que já fizemos antes, então como poderemos progredir? Acredito que tudo isso seja incerto, mas nós nos enganaríamos se pensássemos que sabemos o que acontecerá toda vez que nos movemos. Eu escutei inúmeras pessoas de pé na beirada de um muro tentando se preparar para um salto dizendo: 'Eu sei que consigo'. Se você sabe e tem certeza que pode realizar qualquer salto ou movimento, então você nunca vai precisar de preparação. Nem mesmo um segundo para ajustar sua pisada ou posição. Eu também acredito, oposto a verdade, que nós não sabemos que alguma coisa é impossível, e a única maneira de descobrir é tentando. O que estou sugerindo é que nós mudamos a nossa maneira de pensar.
Pessoalmente eu acho que o medo é desnecessário na vida, e que o medo nos segura em tudo. Encarar, e sobrepujar, esse medos é uma das razões pela qual eu treino. Não precisamos do medo para nos dizer os perigos envolvidos no treino ou no dia a dia. Já conhecemos tais perigos, tanto consciente quanto inconscientemente. Quando atravesso uma rua movimentada, estou completamente consciente dos perigos e que eu poderia ser atropelado por vários carros se repentinamente andar sem olhar para os lados. Mas não tenho medo. O medo nos inibe e/ou a nossa habilidade de reagir efetivamente. Quando temos medo perdemos nossa concentração, hesitamos e perdemos a boa forma que gastamos anos tentando aperfeiçoar através dos treinos. Pode ser argumentado que tudo que fazemos tem algum perigo, de um jeito ou de outro, mas se o objetivo do medo é nos informar desses perigos então veríamos o mundo inteiro como uma ameaça à nossa segurança, e viveríamos num estado contínuo de medo da infinita lista de possíveis coisas que podem dar errado em qualquer situação. O fato é, enquanto praticamos realizamos vários movimentos perigosos sem medo, simplesmente por que alcançamos um jeito de conquistá-lo. Quantas vezes já ouvimos pessoas na rua dizendo que o que fazemos é perigoso e devemos ter cuidado? Como se já não soubessemos desses perigos e estivessemos movendo pelo ambiente sem preocupação com nossa própria segurança. É semelhante a parar todos os ônibus que passam, apenas para dizer ao motorista que dirija com cuidado, por que se ele bater ele pode se machucar.
Eu tenho medo de altura desde que posso me lembrar, e toda vez que eu fico com medo é como se tudo que eu aprendi não valesse para nada. Eu duvido da minha pegada, minhas pernas ficam fracas, e sinto-me fisicamente incapaz de fazer coisas que poderia fazer facilmente em alturas mais baixas com o mínimo de esforço. Viver sem medo não quer dizer que você vai viver imprudentemente. Se de repente eu perdesse todos os meus medos eu não saltaria do telhado da minha casa só por que não tenho mais medo, por que eu ainda guardo o conhecimento e compreensão das possíveis consequências de minhas ações. Viver sem o medo da morte não quer dizer que você não valorize mais a vida, mas que tem uma profunda compreensão e aceitação que apesar da escolha do seu estilo de vida e das precauções que você tome, você pode morrer a qualquer minuto pelas coisas que estão fora de seu controle.
Uma importante lição que aprendi é o que a confiança pode trazer sozinha. Existem inúmeros movimentos e caminhos que posso realizar fisicamente, mas não faço por falta de confiança ou medo. Quando estamos confiantes nos seguramos diferentemente e movemos com mais empenho. Nossos pensamentos e crenças se preenchem no caminho que movemos e também determinam o nível do que é e do que é não é possível.
Recentemente eu descobri uma técnica chamada "visualização", aprendida e usada por dançarinos e atores, para melhorar sua postura e eficiência de movimento. A premissa básica da técnica é que o pensamento afeta o comportamento dos nossos corpos, e que esse poder serve para desenvolver um repertório de imagens que você relaciona para mover seu corpo de formas diferentes. Por exemplo, imagine que seu corpo é uma bola durante um rolamento. A forte imagem que eu imagino agora e durante os meus treinos, é que meus braços e pés são setas/flechas, apontando para a direção que eu quero viajar e concentrando o fluxo de energia. Como quando os pés apontam num underbar ou salto de precisão. Até eu começar a ler sobre isso eu tinha pouca noção de que mantinha essa imagem na mente enquanto treinava, mas não sabia que existia uma técnica trabalhando, nem mesmo que existia uma técnica, e tenho certeza que outras pessoas estão usando a visualização sem perceber. Em algum ponto eu quero usar essas imagens mais conscientemente para ajudar meu desenvolvimento. Você pode perceber o efeito do pensamento com um simples teste: primeiro, vire sua cabeça para a esquerda, depois de novo ao centro. Então tente a mesma coisa, mas enquanto faz isso, pense em mover-se na direção oposta.
Somos capazes de ver se uma pessoa está chateada pela expressão de seu rosto ou sua postura. Gastei algum tempo observando e analisando a linguagem corporal da maneira como as pessoas treinam, de alguns amigos, mas na maioria estranhos. Acho que você pode dizer muito sobre uma pessoa e suas perspectivas das coisas, seu humor e atitude pelo jeito que elas treinam. Isso também traz um benefício para percebermos as coisas em nós mesmos, e para nossos corpos e mentes aproveitarem o máximo de nossos esforços.
Algumas coisas me levam a pensar na eficiência do 'flow'. Durante o verão eu treinei numa área relativamente pequena usando alguns movimentos básicos e traçando uma rota que incluia escalada, quando dois caras se aproximaram pra saber o que eu fazia. Eles disseram que seu patrão estaria interessado em ver isso também, e perguntaram se eu importaria de preparar uma pequena exibição em troca de alguma recompensa. Como sempre, eu respondi que eu não fazia apresentações, mas o que eu poderia fazer era continuar o que eu estava fazendo antes do patrão deles chegar. Eu não tinha uma boa razão para recusar, então quando o chefe e o resto da comitiva apareceram eu simplesmente continuei minha rotina e executei os movimentos como já fazia nas últimas duas horas ou mais. Por isso eu ganhei aplausos, incontáveis "obrigados" e um aperto de mão dourado de £10. Você pode dizer que eu me vendi, que usei minhas habilidades para ganhar dinheiro, mas acredito que essa situação foi possivelmente o primeiro teste do que aprendi até aquele ponto. Meu treinamento foi posto em prática sobre pressão em frente de várias pessoas. Este é um exemplo de por que eu acredito que o Parkour extende-se além de sua definição. Nessa situação eu fiz o que trouxe mais harmonia e satisfação para mim e para aqueles em minha volta. Teria sido fácil dizer não, mas era um desafio dizer sim. Não apenas testei minhas habilidades numa situação que pode ser facilmente simulada, mas eu trouxe alegria para um grupo de estranhos. Qual recompensa é maior que essa? Para mim, isso é o que o "flow" e o Parkour siginificam num senso diário. Se o mundo pedir alguma coisa à você, então você deveria ser capaz de fazer o que seja, e aproveitar isso.
Ser capaz de adaptar-se a qualquer obstáculo, qualquer situação e superá-la, isto é o que muitas pessoas, muitos traceurs dizem que querem conquistar. Mas quantas pessoas estão tentando fazer isso além do sentido físico? Lembro-me de novo do quote: "ser forte para ser útil". Como podemos ser verdadeiramente fortes na mente, e úteis para os outros, se concentramos toda nossa energia nessa atividade física mas não conseguimos alcançar um equilíbrio nos relacionamentos e em outras áreas da vida? Qual a utilidade do Parkour, se por exemplo, depois de um dia de treino você chega em casa e discute com sua família, ou fica deprimido ou frustrado por que não consegue treinar direito?
Parkour pode ser usado para escapar, mas não acho que deva ser usado para fugir de tudo desse jeito. Se isso me ensinou alguma coisa, é que não preciso fugir. Para cada desafio, cada medo que encaro, eu aprendo alguma coisa que me permite seguir para onde eu não podia antes.
Nós tendemos a fazer o que nos é confortável e fácil, nós comemos as mesmas refeições, escutamos a mesma música e até tendemos a fazer amizades com pessoas que tem interesses similares aos nossos. O mesmo se aplica aos treinos, e terminamos nos lugares favoritos com os movimentos preferidos. O problema é que ficamos escravos de um tipo de rotina, e quando isso acontece o efeito bola de neve começa e fica cada vez mais difícil de sair disso. Eu acredito que para realmente progredir, e mais rapidamente, temos que nos encontrar num estado contínuo de mudança de hábitos, e desafiando as coisas que achamos desconfortáveis. Que seja o hábito de fazer sempre o mesmo vault ou reagir as críticas com raiva, por exemplo. Olhar para as coisas dessa maneira é mais fácil para ver o que precisamos treinar e como podemos aprender mais. Olhe para aquilo que você está evitando, e então vá e faça. Se você não quer treinar no molhado, então esse é um exemplo perfeito de quando você deveria estar treinando! Com esse método de usar seus medos e preferências como um guia do que você deve treinar, você nunca encontrará alguma coisa que não precisa ser trabalhada.
Na verdade, você provavelmente vai descobrir que não precisa procurar por desafios e obstáculos para lutar, eles o encontrarão. Para mim, tudo é um hábito, e não ser capaz de fazer alguma coisa é tão habitual quanto ser capaz de fazê-lo. O mesmo acontece quando você evita algum tipo de movimento, situação, pessoas ou qualquer coisa que se possa pensar. 'O hábito de quebrar hábitos'. Isto é tão simples quanto o que Parkour siginifica para mim. Ser capaz de fazer coisas que você já evitou ou teve medo, esta é a maior liberdade que você já precisou?
Eu acho um pouco deslocado colocar tanta ênfase no condicionamento físico sem preocupar-se com a maneira que sua mente foi condicionada antes mesmo de você poder andar.
Quando eu treino eu percebo claramente meus medos, ansiedades, preocupações e hábitos que me reprimem, mas também me fazem recuar para onde me sinto familiar e confortável. Essa é outra motivação para o meu treino, dissolver esses medos em todos os aspectos de minha vida. Todas essas coisas podem as vezes requerer muito esforço mental e físico da minha parte, por isso eu também escolho por mover-me por instinto simplesmente, espontaneamente, seja num percurso ou não, apenas por diversão, sendo a diversão a intenção e o objetivo. E eu respeito qualquer um que escolha o mesmo. Acho que para ser flexível e adaptável é vital aprender o equilíbrio entre o "treinamento sério" com diversão e apenas movimentar-se por se sentir bem, e não pensar menos de nós mesmos ou dos outros por fazerem isso. É tudo uma parte da jornada. Você pode se encontrar depois de três anos pensando: 'Eu devia ser mais forte, mais rápido e mais confiante', mas você deve se lembrar que apesar de como sua habilidade está agora, você divertiu-se pelo caminho. Senão, para que alcançar um nível como o de David Belle ou mais que isso, se você não aproveitou o que precisa para chegar lá? Eu não gostaria de gastar minha vida fazendo alguma coisa que eu só encontraria felicidade ao final, e não pelo caminho.
Para mim, não existe uma real distinção do que podemos chamar de 'Parkour' e do que chamamos de 'Vida'. Eles são um todo inseparável e acho que deveríamos enxergá-los dessa maneira. Se somos observadores do que está ao nosso redor e se agirmos com discernimento enquanto treinamos, então deveríamos ser imparciais em como vivemos a vida também. Sinto que todos temos alguma coisa para ensinar, e ao mesmo tempo podemos sempre aprender com pessoas menos experientes que nós, e não só aqueles que consideramos 'melhores' que nós. Sinto que o melhor jeito de ensinar alguém é não dizendo nada à pessoa, mas silenciosamente mostrando os valores que você vive e treina. Seu aviso não vai ser fiel se por exemplo, você diz à alguém (especialmente à uma criança) para sempre praticar movimentos básicos em que tudo é preciso, quando você mesmo não está praticando isso. Se você está guiando alguém menos experiente, esse é um bom momento para manter seu treino sempre em cheque, para que você faça como fala, para não ficar da boca para fora.
Para mim, o movimento é só a ponta do iceberg nessa jornada até a total consciência. Acho que o Parkour abriu os olhos de várias pessoas de várias maneiras, para alguma coisa maior que o exterior e manifestações físicas, que como um todo achamos difícil de pontuar ou colocar em palavras. Pessoas começaram a discutir coisas que extendem-se além de 'como posso executar o movimento X?', e para mim isso é parte do objetivo final do Parkour. Fazer-nos questionar a vida e examinar além do que vemos como tangível, permitindo que encontremos nossos próprios caminhos.
Sinto que encontrei meu caminho e não gasto mais toda minha energia numa estrada de perguntas sem fim, por que eu sei que se eu não agir contra um pensamento ou uma idéia, nenhuma soma de pensamentos irá mudar a situação.
Está é minha experiência.
Sinto que a jornada está apenas começando.
Gostaria de agradecer à todos com quem já treinei, aqueles que me ensinaram, inspiraram, me testaram e zombaram de mim, todos que encontrei pelo caminho, e os que ainda vou encontrar, e todos que individualmente querem percorrer o caminho. Este vídeo é para vocês.
http://youtube.com/watch?v=66aCaw_27Oo"
Nota do Rachacuca: Esse texto teve uma grande repercussão em fóruns de Parkour por todo o Globo e, no tópico da Parkour.net, seu autor deixou algumas outras observações post scriptum, que estão traduzidas abaixo. Sei que dessa maneira o meu post fica maior ainda, mas acredito que ele pode ajudar a compreensão de seu significado, e também elucidar as idéias dos interessados.
Cont:
"Não quero que este texto seja objeto de discussão do que é ou do que não é Parkour, esse texto é apenas minha visão do que é possível. Pense num muro ou numa cerca, em sua maioria são construídos para separar uma coisa da outra, seja para separar um quarto de outros elementos, ou uma estrada de um passeio. Quando treinamos, pegamos coisas que foram criadas para algum outro propósito e usamos isso para ajudar nosso desenvolvimento, ou simplesmente por diversão. Supondo que o Parkour foi 'criado' para escapar e resgatar, minha sugestão é que podemos pegar essa 'estrutura' do Parkour e usá-la para muito mais coisas que talvez a intenção de seus criadores.
Acho que se você concordar que devemos nos adaptar para poder progredir e alcançar um nível de habilidade mais alto no Parkour, então por que a idéia de adaptação não pode ser levada mais longe e transformar o próprio Parkour?
O objetivo de mudar o Parkour seria para adaptação. Da mesma maneira que eu acho que você pode aprender alguma coisa de qualquer coisa. Acredito que não exista movimentos inúteis, e que o infinito potencial do que praticamos está sendo cortado por alguma razão.
Se estamos envolvidos em fazer alguma coisa que tem uma definição, e a definição e seu conteúdo não ajuda-nos a progredir e desenvolver como um todo, então acredito que você mudaria o jeito de pensar sobre isso, e posteriormente sua definição sobre isso.
Acho que se você treina Ballet por vários anos e isto torna-se restrito pela definição do que é o ballet, por que você está interessado em outros movimentos e diferentes idéias, então você simplesmente mudaria sua definição do que é o Ballet, ou até, escolher não defini-lá afinal.
Não estou dizendo que o Parkour não é útil em seu estado atual, mas que atualmente está limitado. Como dizem, o Parkour pode ser útil numa lista de 'várias coisas'. Então por que limitá-lo à uma lista de 'poucas coisas'.
Concordo que quando pessoas estão começando, elas ainda são incapazes de perceber os benefícios de engrenarem no Parkour, por que a foco está no aspecto físico externo disso, mas acredito que, como um todo, nós apenas começamos a riscar a superfície do que é possível.
Acho que é da natureza humana desafiar definições e limites, e que é uma progressão natural do Parkour mudar-se e evoluir-se, do mesmo jeito que qualquer outra coisa deveria evoluir, se as pessoas descobrissem que essas coisas tem um potencial maior.
Acho irônico que alguma coisa como o Parkour, que possibilita que tantas pessoas aproximem-se de termos de adaptação, não adaptaria a si mesmo para servir outros propósitos. Acho que essa seria a maior contradição de todas.
Não acho que minhas idéias sobre Parkour radicalmente mudem sua definição, mas ao contrário, aumente o alcance dela. Por isso que eu sinto no fundo do meu coração que eu treino e pratico a essência de sua definição original, mesmo que a maneira que eu faça-o seja diferente da maneira dos outros.
Acho que se você abraçar a definição, então em algum ponto você irá desafiá-la, simplesmente.
Meu objetivo é usar as idéias que aprendi, e ativamente pratiquei, através do parkour para superar obstáculos física e mentalmente, em todas as áreas da vida.
Acho que se alguma coisa pode expandir-se para qualquer aspecto da vida, então essa é a ferramenta definitiva."
Cont:
"Não quero que este texto seja objeto de discussão do que é ou do que não é Parkour, esse texto é apenas minha visão do que é possível. Pense num muro ou numa cerca, em sua maioria são construídos para separar uma coisa da outra, seja para separar um quarto de outros elementos, ou uma estrada de um passeio. Quando treinamos, pegamos coisas que foram criadas para algum outro propósito e usamos isso para ajudar nosso desenvolvimento, ou simplesmente por diversão. Supondo que o Parkour foi 'criado' para escapar e resgatar, minha sugestão é que podemos pegar essa 'estrutura' do Parkour e usá-la para muito mais coisas que talvez a intenção de seus criadores.
Acho que se você concordar que devemos nos adaptar para poder progredir e alcançar um nível de habilidade mais alto no Parkour, então por que a idéia de adaptação não pode ser levada mais longe e transformar o próprio Parkour?
O objetivo de mudar o Parkour seria para adaptação. Da mesma maneira que eu acho que você pode aprender alguma coisa de qualquer coisa. Acredito que não exista movimentos inúteis, e que o infinito potencial do que praticamos está sendo cortado por alguma razão.
Se estamos envolvidos em fazer alguma coisa que tem uma definição, e a definição e seu conteúdo não ajuda-nos a progredir e desenvolver como um todo, então acredito que você mudaria o jeito de pensar sobre isso, e posteriormente sua definição sobre isso.
Acho que se você treina Ballet por vários anos e isto torna-se restrito pela definição do que é o ballet, por que você está interessado em outros movimentos e diferentes idéias, então você simplesmente mudaria sua definição do que é o Ballet, ou até, escolher não defini-lá afinal.
Não estou dizendo que o Parkour não é útil em seu estado atual, mas que atualmente está limitado. Como dizem, o Parkour pode ser útil numa lista de 'várias coisas'. Então por que limitá-lo à uma lista de 'poucas coisas'.
Concordo que quando pessoas estão começando, elas ainda são incapazes de perceber os benefícios de engrenarem no Parkour, por que a foco está no aspecto físico externo disso, mas acredito que, como um todo, nós apenas começamos a riscar a superfície do que é possível.
Acho que é da natureza humana desafiar definições e limites, e que é uma progressão natural do Parkour mudar-se e evoluir-se, do mesmo jeito que qualquer outra coisa deveria evoluir, se as pessoas descobrissem que essas coisas tem um potencial maior.
Acho irônico que alguma coisa como o Parkour, que possibilita que tantas pessoas aproximem-se de termos de adaptação, não adaptaria a si mesmo para servir outros propósitos. Acho que essa seria a maior contradição de todas.
Não acho que minhas idéias sobre Parkour radicalmente mudem sua definição, mas ao contrário, aumente o alcance dela. Por isso que eu sinto no fundo do meu coração que eu treino e pratico a essência de sua definição original, mesmo que a maneira que eu faça-o seja diferente da maneira dos outros.
Acho que se você abraçar a definição, então em algum ponto você irá desafiá-la, simplesmente.
Meu objetivo é usar as idéias que aprendi, e ativamente pratiquei, através do parkour para superar obstáculos física e mentalmente, em todas as áreas da vida.
Acho que se alguma coisa pode expandir-se para qualquer aspecto da vida, então essa é a ferramenta definitiva."
7 Impressões:
legaaal, eu ja tinha visto o vídeo ontem mas o texto eu não conhecia....tem taaanta coisa escrita que realmente nem da pra comentar tudo. Também não concordo com tudo mas achei interessante qnd ele diz:
"Para mim, não existe uma real distinção do que podemos chamar de 'Parkour' e do que chamamos de 'Vida'. Eles são um todo inseparável e acho que deveríamos enxergá-los dessa maneira."
abrarts
nem sei como te agradecer pela tradução.
quer dizer... acho que nem sei o que falar...
abração racha.
valeu pelo texto, Racha!
hum ..
bonzao o texto racha
realmente faz o cara para pra pensar !
abraçao !
nice job!
abração
que foda!
Obrigado pelo texto.
Acredito que ele não é o único nessa jornada.
Cuide-se
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