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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Crítica: Missão Babilônia (Babylon AD)

ATENÇÃO: ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS, OU SEJA, REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA DO FILME. SABE AQUELES COMENTÁRIOS INDESEJÁVEIS, NA FILA DA PIPOCA, DE QUEM JÁ VIU O FILME? EXATAMENTE. PORTANTO, SE VOCÊ AINDA NÃO VIU O FILME, MAS DESEJA FAZÊ-LO, SUGIRO QUE NÃO LEIA ESSE POST.


O filme Missão Babilônia (Babylon AD), do diretor Mathieu Kassovitz, responsável por revelar o ator Vincent Cassel ao mundo no filme O Ódio (La Haine), é o mais recente filme a empregar cenas de Parkour, inclusive com a participação de David Belle, criador da atividade, e outros nomes importantes, como Thomas Couetdic.

Toorop, vivido por Vin Diesel, é um mercenário que aceita transportar uma garota da Mangólia para Nova York. Pouco sabe-se sobre ele e menos ainda sabe-se sobre ela. O ambiente da trama é um futuro próximo, mas não especificado.

Uma idéia há muito explorada. Mas nenhum problema quanto à isso, uma vez que vários filmes compartilham da mesma idéia, porém a maneira de contar a história é que os difere. Acontece que até a maneira de contar essa história é próxima de um outro filme, Filhos da Esperança (Children of Men), dirigido por Alfonso Cuarón, retratada muito melhor nesse segundo caso, conceitualmente e em todos os departamentos artísticos. Os dois filmes tratam de uma adaptação da literatura, que até nesse tipo de manifestação artística compartilham o enredo. São elas Filhos da Esperança, da autora inglesa P.D. James, para o filme de mesmo nome e Babylon Babies (sem versão em português), do autor francês Maurice G. Dantec, para Missão Babilônia.

Os problemas do filme de Kassovits começam na primeira etapa de concepção de um filme. O roteiro é muito confuso. Tenho a impressão de que o autor perdeu-se em meio as suas idéias. São tantos elementos que, se não desenhados apropriadamente, embolam-se. E, a medida que a narrativa continua, acrescenta-se mais elementos confusos que amontoam-se e, inevitavelmente, forçam o espectador a se desligar do filme para analisar as ilógicas conlcusões dos personagens. Kassovitz culpa a produtora FOX pelo insucesso lógico do fime, pois ele não obteve o corte final, e a produtora eliminou 70 minutos do produto final, para manter a classificação livre para as salas de cinema. Uma postura imatura de Kassovitz pois, claramente, os problemas do filme estão no roteiro, e não na edição. Mas, a produtora não facilita em nada assumindo essa tirania. Pior mesmo é para os fãs, e para o próprio filme, que estão sujeitos à ditadura das produtoras.

A estrutura não é o único probelma do roteiro. Seu maior deslize é o número de citações gratuitas de outros filmes, que para o grande público podem passsar despercebidas ou, de maneira equivocada, parecer interessante. Ao mencionar por que aceitou o trabalho, Toorop diz que "recebeu uma oferta que não pode recusar", frase célebre de Don Corleone, personagem interpretado por Marlon Brando, em O Poderoso Chefão Parte 1. A expressão fazer "uma proposta irrecusável" significa: ou você faz o que eu peço ou eu te mato. Simples assim. Ou quando um comparsa de Toorop diz "não estamos mais no Kansas". Novamente, para o grande público uma referência ao filme Matrix, "Kansas is going bye-bye", mas, primeiramente, referente ao filme O Mágico de Oz, quando Dorothy Gale, vivida por Judy Garland, diz ao seu cachorro "Toto, acho que não estamos mais no Kansas". No filme Fahrenheit 451 de François Truffaut, a sociedade sofre de uma negacão limite à cultura, quando as casas são invadidas e os livros são apreendidos e queimados, a leitura, portanto, é proibida e a televisão é a única forma aceita de entretenimento. Aqui, utiliza-se desse conceito para empregar a TV também num estado limite, em que ela não mais pode ser desligada. Uma referência mais elaborada. Pelo menos, o diretor recorreu à grandes obras como inspiração.

Mas não pára por aí. Agora as sacadas visuais. A panorâmica da cidade de Nova York é exatamente igual à Neo Tokyo da animação Akira, criação de Katsuhiro Otomo, enquanto nas ruas, a aparência pós apocalíptica é sugada de Blade Runner, de Ridley Scott, inclusive com uma brincadeira de muito mau gosto. Em Blade Runner existe uma propaganda da Pepsi, que é cheia de significado quando contextualizada no filme. Em Missão Babilônia a marca da Coca-Cola aparece, se não me engano, quatro vezes, em grande escala, completamente vazia de intenção, puramente para contrapor-se à Blade Runner. Agora, a parte mais incompreensível e inconcebível do filme, seu final. A garota misteriosa, sem ter nenhuma relação sexual com ninguém, aparece grávida, fato pouco determinante, pois afinal de contas, descobre-se que ela é um robô. Blade Runner novamente? Possivelmente. Ou, talvez, uma referência à Bíblia, a história do nascimento de Jesus Cristo. Quase isso, uma vez que a moça espera gêmeos. Só faltava nomeá-los Luke e Lea.

Filmes de ação, geralmente, adotam novos dispositivos tecnológicos para impressionar os espectadores. No sentido de utilizar os novos recursos de computação gráfica a favor da estética da obra e, muitas vezes, dos próprios criadores dessa tecnologia. Vide caso, por exemplo, de Toy Story, Nemo e Matrix. E nesse aspecto, existem trechos interesantes. Por exemplo, os monitores LCDs dentro do tanque do chefão Gorsky (Gerard Depardieu) ou a trajetória do míssil pelas ruas de Nova York culminando com sua explosão. Mas, esses momentos são raros.

Finalmente, comento as partes que mais interessam aos leitores desse blog de Parkour, as cenas de Parkour, propriamente. David Belle e seu time interpretam um grupo de Hackers que precisam raptar a garota. Nerds que praticam Parkour, enfim uma relação bem construída e verídica, em muitos casos, já que o maior disseminador do Parkour no mundo é a internet. Eles seguem Toorop até a estação de trem e é nesse ambiente que identifica-se o primeiríssimo movimento de Parkour do filme. Trata-se de um thief vault, do alto de um container para baixo. Nada demais, porém muito limpo e bem executado. A grande cena de Parkour acontece numa boate adaptada dentro de uma antiga fábrica. Basicamente, resume-se em saut-du-chat's e underbars. No entanto, a cena acontece com uma fotografia tão escura, que mal percebe-se os movimentos. David Belle, além de atuar, é responsável pela coreografia das cenas que empregam o Parkour. Na sala de cinema em que eu assisti, junto com outros pkmaxianos, os espectadores reconheceram os movimentos: "Olha a galera do Le Parkour", eles diziam. A perseguição de Parkour termina na "Gaiola da Morte", onde Toorop confronta-se com Killa, nome sugestivo do personagem de Jérôme Le Banner, um dos lutadores de K1 que mais admiro, ao lado de Mirko Cro Cop. Nesse momento, evidencia-se a participação de Michelle Yeoh, conhecida por sua atuação em O Tigre e O Dragão. Observação interessante: durante a briga, por que Vin Diesel não luta, de Killa e Toorop a trilha sonora é Dead Embrionic Cells, do Sepultura, que foi recentemente usada, também como trilha sonora, no filme Ricky Bobby: A Toda Velocidade (The Ballad of Ricky Bobby), comédia em que Will Ferrell interpreta um piloto de Stock Car.

A trilha sonora nesse filme é outro departamento que exagera na composição da cena. A música não dá um respiro durante o filme e força a barra ao sugerir o tempo todo a emoção do espectador. Não existe um espaço proveitoso de silêncio para permitir que o espectador reflita sobre a ação. Se bem que quase não existe necessidade de reflexão ao assistir esse filme.

Sobre a atuação nesse filme, vale dizer que David Belle como ator é um ótimo dublê. Mas ainda assim fiquei satisfeito ao identificá-lo e ao Thomas, na tela. Como esperado, Vin Diesel é muito Vin Diesel no filme, ou seja, o cara durão que conforme a trama se desenvolve vai abrindo seu coração. O pior de tudo é que ele sempre impõe o fator esporte radical em seus filmes, e nesse não podia ser diferente. O sujeito arruma espaço para dar um backflip com um snowmobile, trucagem total.

Conclusão. Um filme que não vale a pena ser visto, não fosse pelas cenas de Parkour, em que se reconhece a técnica dos caras, mas, pessimamente montada, e a participação do Jérôme Le Banner ao som de Sepultura, na fase boa, junto com o Thomas-des-Bois. A história é ruim, assim como a fotografia, roteiro, atuação e direção. Uma pena.

No link abaixo é possível conferir a cena de Parkour, da foto acima com o Thomas, e o restante da equipe, que antecede a briga de na Gaiola. O trecho está presente no quinto clipe, o último box de vídeo da página:
Omelete.com/Modões no Cinema

Esse foi o post em que mais relacionei links. Acho que deixei que o conceito do diretor desse filme me contaminasse.

Bruno Rachacuca.

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